segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Enxugando gelo

As manchetes diárias nos apresentam muitas notícias que, sentados em nossas poltronas, nos indignamos e bradamos a célebre frase: “De novo? Já passou da hora de alguém fazer alguma coisa”. Detalhe: isto acontece com uma frequência muito grande e as pessoas continuam sentadas em suas poltronas, sem fazer nada e esperando que outros façam aquilo que eles mesmos podem e devem fazer.

Notícias com a construção de um muro entre os Estados Unidos e México, sobre o interesse do presidente americano de que as empresas americanas voltem a produzir no país, de inaugurações de obras públicas quando sabemos que não se tem dinheiro para manter as estruturas funcionando, dos servidores públicos ameaçando greve e invadindo repartições, de salários atrasados do funcionalismo público, da falta de médicos nos postos de saúde, do índice de desempenho dos estudantes brasileiros nos exames internacionais de avaliação e do alto nível de endividamento do setor público, entre inúmeras outras, deveriam ser as grandes provocações para que passemos a participar mais ativamente do processo decisório, afinal de contas os grandes prejudicados sempre serão os cidadãos comuns.

Não tentem demonstrar inocência extrema achando que os milionários e os agentes políticos estão ou irão ser atingidos pelos fatos relatados, nem tampouco que eles estejam se preocupando e se empenhando para trazer soluções efetivas para a população. Basta ver o que os noticiários trazem sobre as acusações que estão fazendo de Eduardo Cabral, Eike Batista, Marcelo Odebrecht, Léo Pinheiro e outros empresários e políticos corruptos que estão sendo investigados pela Operação Lava Jato. Há alguma dúvida sobre o possível desfecho destes casos?

Alguém irá preso, mas por pouco tempo. Algum dinheiro será recuperado, mas muito pouco comparado com as cifras anunciadas. Assim, daqui a poucos anos ou meses os corruptos e ladrões do dinheiro público estarão livres ou em prisão domiciliar em suas mansões confortáveis usufruindo do dinheiro que não retornou para os cofres públicos.

As cifras dos desvios, superfaturamentos e pagamentos de propinas são astronômicas e por mais que muitas pessoas afirmem que isso sempre existiu não podemos nos conformar e temos que agir no sentido de minimizar a ação dos inimigos da sociedade.

É decepcionante verificar que as estruturas de controle interno e externo dos órgãos públicos não dão conta de detectar e combater estas práticas. O controle interno muitas vezes pode alegar que estão reféns do sistema, mas o controle externo, representado pelos legislativos municipais, estaduais e federais, deveria estar mais vigilante e denunciar com maior rigor os agentes políticos causadores de danos para a sociedade.

O controle na administração pública tem por objetivo manter o equilíbrio na relação existente entre o Estado e a sociedade. O controle interno é designado pelo agente político e o controle externo (legislativo) é escolhido pela sociedade através do sistema eleitoral. Portanto é possível exigir e pressionar para que tanto o controle interno quanto os detentores de funções legislativas passem a fiscalizar com mais vigor as ações do executivo. Qualquer atuação diferente disto será como tentar enxugar gelo, uma tarefa que não terá fim e que não resultará em benefício da coletividade.

Temos que levantar de nossas poltronas e sermos mais proativos e assertivos no combate às práticas nocivas das pessoas que estão na administração pública somente para se servir dela e não para servir a sociedade. Caso contrário a situação poderá piorar ainda mais. 

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Dando milho aos pombos

Tem coisas que acontecem que extrapolam a compreensão do ser humano comum. Coisas que nos discursos de qualquer indivíduo sai afinado e agradando a todos, como se soubessem o que é melhor para si e para os outros. Entretanto quando visualizamos os fatos reais, aquilo que está acontecendo ao nosso redor, nos espantamos com a grande disparidade entre o ideal e o real.

Quando uma pessoa comete um crime sabemos que esta pessoa deve ser punida e, dependendo da gravidade do delito, deverá ser privada de liberdade. Também sabemos que o sistema prisional deverá tratar de ressocializar o infrator para que ele não volte a delinquir, podendo voltar a conviver normalmente entre os demais cidadãos de sua comunidade.

Quando a sociedade escolhe um agente político este deve se dedicar às causas da sua comunidade, deixando de lado os interesses particulares e corporativos. Deve envidar esforços para que a qualidade de vida melhore, reduzindo índices de violência, pobreza e desemprego e aumentando a distribuição da riqueza, emprego, poder aquisitivo, nível educacional e expectativa de vida.

Na verdade seria muito bom se tudo acontecesse desta forma, daí poderíamos ter a tranquilidade e segurança de que o discurso e a prática convergem para os interesses comuns.

Infelizmente na prática a teoria é outra. Com os recentes eventos em presídios brasileiros voltamos a ter a certeza de que os agentes políticos fazem pouco ou quase nada do que é de interesse da sociedade. Até há pouco parece que não existiam problemas no sistema prisional, pois não se falava, não se ouvia e não se planejava nada. Agora prefeitos, governadores e até o Presidente da República e parlamentares de todos os níveis vêm a público atestar a falência do modelo existente sendo que estes não haviam se manifestado sobre o assunto.

Realmente é como o cantor e compositor Zé Geraldo canta em sua música: “isso tudo acontecendo e eu aqui na praça dando milho aos pombos”. Na verdade toda a sociedade está “dando milho aos pombos”. Enquanto os agentes políticos “deitam e rolam” com a coisa pública as pessoas comuns ficam sentadas num banco de praça atordoadas, hipnotizadas e ainda crendo nesses indivíduos.

As pessoas devem lançar mão do benefício da dúvida. Devem duvidar que os candidatos irão cumprir com as promessas. Mesmo votando neles devem debater a candidatura e registrar todas as propostas, promessas e discursos dos candidatos e usá-los para cobrar, monitorar e avaliar a gestão do eleito. Não devem esperar que ele seja reeleito ou eleito para outro cargo, pois irá tentar entoar o “canto da sereia” e se perpetuar em cargos eletivos sem nada dar em troca para a sociedade.

Há inúmeros exemplos de falência de sistemas públicos e de políticas públicas que foram concebidas como política de governo e não como política de estado. A sociedade deve exigir que os agentes políticos comecem a desenvolver políticas de estado, que devem passar pelo parlamento e por outras instâncias de discussão com a sociedade. 

Isto poderá evitar com que as ações de um gestor sejam deixadas de lado pelo seu sucessor pelo simples fato de não ser do mesmo partido ou grupo político. A sociedade quer, merece e necessita de mais que isto. Necessita de políticas de estado que sejam debatidas democrática e exaustivamente. Assim poderemos reduzir, e muito, problemas como a crise prisional que tomou conta dos noticiários pelo mundo afora. Porém, o gigante continua adormecido. O brasileiro precisa começar a cobrar mais eficiência e efetividade do setor público. Precisa cobrar mais debate e atenção com a sociedade e não medidas concebidas por poucas pessoas que ocupam os gabinetes acarpetados e refrigerados das repartições públicas.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Juízo e caldo de galinha

A decisão recente do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil (Bacen) de reduzir em 0,75 pontos percentuais, estabelecendo a Selic em 13% ao ano, está dando uma sensação de que as coisas estão melhorando na economia brasileira. Este é o menor nível dos juros desde março de 2015.

A notícia foi amplamente divulgada como se estivesse ocorrendo a redenção da economia e, assim, tudo estaria melhorando. Mas na realidade não é bem assim. Nas manchetes de divulgação da decisão a frase que mais foi repetido é: “Copom surpreende e reduz a Selic”. A surpresa na decisão é porque era previsto que os juros seriam reduzidos, porém não era esperada que fosse uma redução tão significativa em uma única decisão.

Em junho de 2016 já se esperava que a Selic encerrasse o ano de 2017 em 11% ao ano e as expectativas da semana que antecedeu a decisão do Copom é de que os juros fiquem em 10,25% no fim do período. Portanto a expectativa é de que os juros caiam neste ano, mesmo.

Entretanto o que temos que saber é de que a redução não está sendo promovida por causa do arrefecimento da pressão inflacionária motivada pela ação enérgica da política econômica do governo no combate à inflação. As reais causas da decisão de redução dos juros são motivadas justamente pela incapacidade da política econômica conseguir provocar a retomada do crescimento no cenário de curto prazo.

O que está acontecendo é que a inflação está reduzindo não porque a política econômica está surtindo efeito para isto, mas pelo contrário: a economia deverá encolher cerca de 3,5% em 2016 e em 2017 deverá crescer cerca de 0,5%. Se considerarmos que em 2014 a economia cresceu somente 0,5% e que em 2015 encolheu 3,8% pode-se afirmar, mantendo-se tais expectativas, de que ao final de 2017 estaremos com a economia brasileira operando nos níveis do final do ano de 2010. Não há nada para se comemorar.

No comunicado à imprensa sobre a divulgação o Copom expõem esses motivos quando afirma que “o conjunto dos indicadores sugere atividade econômica aquém do esperado” e quando reconhece que a retomada do crescimento econômico deverá demorar mais do que o esperado pelo governo.

A inflação está com tendência de queda porque a população está consumindo menos por conta do aumento do desemprego e a equipe econômica do governo está dando demonstração de desespero, pois a expectativa é de que as coisas ainda possam piorar antes de começar a melhorar.

Muitas das medidas econômicas que o governo aprovou e as que estão sendo propostas irão surtir efeitos no médio e longo prazo e não darão conta de amenizar a crise fiscal que assola o setor público e da crise econômica que massacra a população brasileira, e de forma mais sensível os pobres, de imediato.

Com a medida o setor público irá diminuir os juros pagos sobre as suas dívidas, porém arrecadarão ainda menos por conta do baixo nível de atividade econômica. Com isto os cofres dos governos federal, estaduais e municipais continuarão arrecadando menos e sendo insuficientes para enfrentar a pesada estrutura de gastos que os agentes políticos criaram nas últimas décadas.

E quem continuará sofrendo, cada vez mais, é a população que permanecerá sendo privada dos serviços públicos essenciais que a Constituição Federal diz que todos têm direito. Resta torcer para que os gestores públicos sejam coerentes e controlem melhor os gastos públicos para buscar uma maior efetividade na aplicação destes recursos que são escassos e que a população tanto necessita.



domingo, 8 de janeiro de 2017

Idoso se diverte?

Uma reportagem veiculada no Jornal Nacional, da Rede Globo, na noite de quarta-feira (04/01/2017) encerra com a seguinte afirmação de idosos japoneses que se encontram ainda no mercado de trabalho: “Quem trabalha é jovem. Idoso se diverte!”. A reportagem tem como título “Idosos enfrentam o desafio de se manter no mercado de trabalho” e, em seu escopo, traz muitas provocações de reflexões acerca de temas como: mercado de trabalho, aposentadorias, Previdência Social e qualidade de vida dos idosos.

Que a Previdência necessita ser reformada não resta dúvidas. Segundo dados do governo federal há déficit na Previdência, pois os pagamentos superam as receitas, mesmo tendo mais de 55 milhões de trabalhadores formais que contribuem. Acontece que há cerca de 34 milhões de aposentados, pensionistas e detentores de outros benefícios que são pagos mensalmente com o total das contribuições do pessoal que está na ativa.

Como podem ver a conta não fecha mesmo. O valor da receita da Previdência, com base nas contribuições do pessoal que está trabalhando mais a contribuição patronal, não é suficiente para pagar todos os benefícios necessários. Com isto há o déficit que é coberto com recursos do orçamento do governo federal e que reduz a possibilidade de financiar outros serviços públicos e aumentar o nível de investimentos.

Mas a causa disto tudo é do próprio governo. Não só do atual. Dele e de todos os que o antecederam. Pouco se preocuparam efetivamente com a melhoria da qualidade de vida do brasileiro. Se assim tivessem se comportado a renda média real seria maior, o sistema de previdência teria liquidez, os aposentados teriam uma renda digna que possibilitaria ele se aposentar com qualidade de vida, nossa economia seria mais rica e as desigualdades sociais entre pobres e ricos seriam menores.

A reportagem tenta justificar a necessidade de os idosos terem que ficar mais tempo no mercado de trabalho para pesar menos sobre a Previdência. Mas na outra ponta não fala que temos um “exército” de jovens que estão entrando em idade economicamente ativa e passarão a demandar emprego. É uma conta simples: a taxa bruta de natalidade em 2015, no Brasil, foi de 14,16 nascimentos por mil habitantes contra uma taxa bruta de mortalidade de 6,08. Com isto a taxa de crescimento demográfico nacional é mais elevada do que a de regiões com países de melhor qualidade de vida.

No Brasil as pessoas estão se aposentando muito jovens, sim. Mas a reforma que estão propondo, além de reduzir ainda mais o valor médio dos benefícios, esta obrigando as pessoas a se aposentarem muito mais tarde. Isto é uma injustiça social das mais perversas com aquelas pessoas que durante muitos anos trabalharam e se esforçaram, contribuindo para minimizar as patacadas que os agentes políticos fizeram em nosso país. E quando chega o momento de se aposentarem vem o governo e quer obriga-los a continuarem no mercado de trabalho para resolver um problema fiscal que o próprio governo criou. Isto sem falar que o valor dos benefícios ficará longe dos recebidos quando estavam na ativa.

E o pior de tudo é que querem comparar nossa situação com a do Japão que possui uma população de jovens pequena e insuficiente para ocupar as vagas existentes no mercado de trabalho.

O brasileiro pode e deve aceitar se aposentar mais tarde, após os 60 anos, mas que esta aposentadoria seja digna e que o valor do benefício recebido dê conta de garantir qualidade de vida para ele e para os seus sem necessitar se sujeitar a continuar no mercado de trabalho até perto de sua morte. Daí sim poderá se afirmar que o idoso brasileiro se diverte.


terça-feira, 3 de janeiro de 2017

O problema do século?

Muitas pessoas gostariam de morar em cidades que possuam uma boa infraestrutura urbana, com muitos equipamentos públicos, rede de ensino e de saúde de qualidade, boa segurança pública e, claro, muitas opções de lazer. Isto sem falar em um nível de renda e emprego elevado. Realmente um excelente sonho de consumo.

O que as pessoas têm que entender é que um município para ter essas qualidades não necessariamente precisa ser um grande centro urbano ou mesmo uma cidade de porte médio. É muito comum as pessoas desejarem que a sua cidade de residência tenha uma população maior. Isto nos arremete a discutir um tema que deve estar, também, na lista de preocupações das novas gestões municipais: o crescimento demográfico.

Não tem o menor sentido essas pessoas defenderem o crescimento populacional sem que este venha acompanhado da ampliação da rede de serviços públicos. Também tem que aumentar a geração de empregos formais e a renda média real do trabalhador. Na década de 2000 o Brasil apresentou um crescimento demográfico de 1,2% ao ano e no período de 2010 a 2016, segundo estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população aumentou 1,3% ao ano.

O estado do Paraná apresentou taxas próximas à media nacional, 0,9% ao ano na década de 2000 e 1,2% ao ano no período de 2010 a 2016. Já os municípios de Apucarana e de Arapongas vem apresentando taxas de crescimento superiores à média nacional. No caso de Apucarana a taxa de crescimento demográfico foi de 1,2% ao ano no período de 2000 a 2010 e de 1,4% ao ano no período de 2010 a 2016. Para Arapongas as taxas foram de 2,0% ao ano para ambos os períodos.

Este tema deve ser uma preocupação dos agentes políticos na elaboração das políticas públicas. Devem se preocupar com o crescimento populacional, sim. Ou aumentam a oferta de serviços públicos de saúde, educação, segurança, infraestrutura e atraem empresas para gerar emprego e renda ou efetuam campanhas de conscientização e de controle de natalidade.

Muitos podem pensar que isto não é função do poder público municipal. E se não for deles de quem será? As pessoas que vivem nestes municípios sentem os problemas do crescimento populacional. Não há moradias para todos. Não há emprego para todos que precisam. E se não bastasse isto as prefeituras possuem limites para aumentar a estrutura de serviços públicos, uma vez que não conseguem aumentar a arrecadação na intensidade necessária para garantir a manutenção ou melhoria da qualidade de vida da população.

Também devem considerar que estes são aspectos estruturais e que qualquer medida que for tomada agora demorará alguns anos para surtir efeito. Portanto já passou do momento de agir para tentar melhorar a qualidade de vida nesses municípios para as próximas décadas.

Da mesma forma é necessário considerar dois aspectos importantes que devem ser analisados em conjunto com o crescimento demográfico, que são: os processos de migração urbana e a transição demográfica. O primeiro trata de pessoas de outros municípios que migram para outras cidades em busca de melhor qualidade de vida criando uma armadilha social para todos. E a segunda diz respeito ao envelhecimento da população que reduz a força de trabalho aumentando o número de idosos que necessitam de serviços públicos especializados.

Como podemos constatar os desafios para melhorar a qualidade de vida de um município são muitos e as equipes técnicas das prefeituras devem se ocupar de tudo isto, bem como a sociedade deve cobrar dos agentes políticos maior empenho na busca de soluções para o problema e a melhoria da qualidade do gasto público. Isto para que possamos ter mais qualidade de vida em nossas cidades num futuro próximo.