domingo, 28 de maio de 2017

Em terra de Saci...

Parece que virou rotina o fato de vários agentes políticos envolvidos em episódios de corrupção, recebimento de propinas e desvios de dinheiro público estarem deixando de pagar suas dívidas com a sociedade.

Quando as investigações e operações da Polícia Federal, Ministério Público e Judiciário começaram a ser desencadeadas, a sociedade desconfiou que fosse mais um pequeno episódio, de tantos outros na história brasileira, em que acabaria em nada. Foram pequenos passos. Mas, como em terra de Saci todo passo é um grande salto, escancarou-se um grandioso esquema de corrupção onde se identificavam verdadeiros estados paralelos ao do Brasil.

Volumes gigantescos de dinheiro sendo transportados para todos os lados em malas, mochilas, pacotes e sabe-se lá em que outro recipiente. Dinheiro que poderia melhorar a infraestrutura das escolas públicas em regiões mais pobres, capacitar professores para dar uma formação mais digna para nossas crianças, dinheiro que poderia ser transformado em medicamentos nos postos de saúde, ou mesmo para contratar médicos em quantidade suficiente para atender decentemente um povo tão sofrido como o brasileiro.

Mas, como em terra de Saci todo morrinho é um Everest, isto não aconteceu. Os bolsos de políticos e assessores de encheram com este dinheiro e empresários e banqueiros comandaram nosso país sem pensar na população.

Entretanto, como em terra de Saci, qualquer chute é uma voadora, a grande redenção para todos foi quando alguns políticos e assessores corruptos começaram a ser presos. Mais ainda quando empresários começaram a ir para a cadeia. O país parecia que havia sido assolado por uma onda moralista que empolgou a todos e passamos a ficar confiantes de que os culpados seriam condenados e pagariam pelos seus crimes hediondos contra o povo brasileiro.

O ditado diz que em terra de Saci, todo corrimão é uma salvação. Pois bem, os agentes desta limpeza moral que se iniciava passaram a ser a salvação da pátria, nosso corrimão. A credibilidade deles aumentou, ainda mais, e passamos a ficar mais esperançosos de que dias melhores estavam por vir.

Muitas pessoas se empolgaram com o dinheiro que estava sendo “devolvido” pelos corruptos e bandidos presos. Mas o valor é uma “esmola” diante do que roubaram de nosso país. Perdemos muito e vai demorar a se consertar o estrago provocado pelos malfeitores do país.

Como na canção do grupo Boca Livre: “no meio da noite o galo cantou três vezes”. Cantou porque estava anunciando as peripécias do Saci, o menino travesso de uma perna só que fez com que a comida queimasse e as pessoas perdessem o rumo. O que vemos agora? Os corruptos estão sendo liberados da cadeia, podendo “curtir a vida adoidado” com o dinheiro que deveria estar beneficiando a todos.

Enquanto não criarmos dispositivos concretos para impedir as práticas perversas e criminosas destes corruptos, não avançaremos enquanto sociedade. Estamos vendo a criminalidade avançando e o cidadão de bem sendo acuado e trancado em suas casas.

O que precisamos é de dispositivos de controle social mais efetivos. Que a população compreenda a força que possui. Que consigamos escolher pessoas que possam legislar e fiscalizar efetivamente os atos dos agentes políticos. Precisamos de ferramentas que garantam a efetiva aplicação do dinheiro público em benefício de todos e não somente para um grupo seleto de bandidos.

Como em terra de Saci, uma calça dá para duas pessoas é possível que consigamos este intento. Porém não podemos descuidar de nossas ações. Devemos sempre estar vigilantes, monitorando o gasto público e acompanhado as ações dos agentes políticos. Somente assim poderemos construir um pais melhor no futuro. Mas, vamos ter que segurar nossas peneiras para espantar os Sacis que surgirem por aqui.


terça-feira, 23 de maio de 2017

Persistindo, sempre

Acreditar que os eventos de corrupção envolvendo os principais atores da cena política nacional não podem fazer a economia brasileira retroceder ainda mais é um engano. Já vimos esta cena em diversos episódios da história de nossa jovem república. O primeiro episódio de impeachment, o do Fernando Collor, ficou sendo coisa pequena perto do que está sendo escancarado para a sociedade nos últimos meses.

Somente no primeiro dia após o anúncio das gravações comprometendo o presidente Temer a bolsa de valores caiu 8,8% e o dólar sofreu a maior alta desde a maxidesvalorização ocorrida no Plano Real, em 1999, subiu 8,06% num dia.

O entendimento comum dos analistas econômicos é que as notícias recentes podem tornar o país mais vulnerável e o risco de se manter recursos financeiros no mercado nacional passa a ser muito alto. Com efeito, os investidores estrangeiros, e até mesmo os brasileiros, tendem a se desfazer de suas posições na bolsa de valores, vendendo suas ações, o que faz com que as cotações das ações das empresas caiam.

Por outro lado estes investidores tendem a buscar mercados mais seguros no resto do mundo e para isto tem que efetuar operações de câmbio, comprando a moeda americana. Com isto a cotação aumenta. Sem falar nas pessoas que ficam com medo de medidas econômicas emergenciais que possam reduzir muito a liquidez do mercado e apostam no dólar como uma forma de proteção de seu capital financeiro.

É fácil de perceber que as empresas irão perder capitais e passam a ter uma visão mais pessimista sobre o cenário econômico de curto prazo. Não investem mais e podem até reduzir os investimentos programados, o que irá causar o aumento do desemprego. Soma-se a isto um possível aumento da inflação por conta do aumento da cotação do câmbio.

Somente eventos ruins para a população assalariada.

Daí os críticos de plantão bradam, com razão, que o presidente Temer deve sofrer impeachment ou mesmo renunciar. É o sentimento natural que assola qualquer cidadão de bem deste país.

Mas se observarmos a linha sucessória da presidência da República temos que o primeiro a assumir seria o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, e o segundo seria o presidente do Senado Federal, Eunício de Oliveira. Ambos investigados pela Lava-Jato. Cabe lembrar que uma boa parte de nossos políticos está sendo investigada nesta ou em outras operações que visam combater a corrupção e desvio de dinheiro público.

Ainda na linha sucessória, no caso de necessitar de uma terceira pessoa, quem assumiria seria a presidente do Supremo Tribunal Federal, ministra Cármen Lúcia.

As nossas opções não são das melhores. E tudo isto até que o Congresso Nacional eleja, indiretamente, um presidente para cumprir mandato “tampão” até 31/12/2018. Um governo de transição implicará em mudanças de ministros e demais assessores e mudanças em muitas políticas de governo e de estado, bem como possíveis alterações nas reformas que estão tramitando.

Mais uma vez quem irá sofrer as consequências mais amargas é a população assalariada, em especial os mais pobres que necessitam mais da ação positiva dos governos.

Outra alternativa que apontam é uma mudança constitucional para viabilizar eleições diretas, já. O que poderia ampliar o período em que os sucessores ficariam comandando o país. Como podemos ver as alternativas possíveis passam, necessariamente, por caminhos que irão trazer mais dificuldades e sofrimento para os brasileiros. 

Um governo provisório, por um ano somente, não dará conta de tomar medidas que melhorem a situação econômica, poderá apaziguar o contexto político, mas nada trará de benefício efetivo para a população. Mas o que podemos fazer? Persistir, sempre. Afinal de contas somos brasileiros e não desistimos nunca.  

domingo, 14 de maio de 2017

Combatendo a ignorância

A evolução da humanidade obteve grandes avanços ao longo da história e atingiu regras de convivência em grupo. Desenvolveu modelos de organização da sociedade que utilizam princípios morais e éticos para que a convivência seja positiva e produtiva.

Dentro destas regras temos que a vida coletiva impõe a necessidade de que a ação humana possua limites. Não se trata de proibir, mas de estabelecer até onde a liberdade de uma pessoa pode ir sem afetar os demais membros da sociedade. Com efeito, temos que a liberdade é uma condição desejável por todos, porém constitui-se como um dos problemas da sociedade contemporânea. Já para o filósofo Jean Paul Sartre a liberdade é condição fundamental da ação e o homem está condenado a ser livre. Por conta desta condenação toda a sua existência decorrerá desta condição.

Assim podemos efetuar as seguintes perguntas: qual é o limite para a liberdade? Qual é o limite para a liberdade de expressão dos indivíduos?

De forma recorrente vemos diversos detentores de cargos eletivos utilizando de arrogância e colocando o dedo em riste para impor suas ideias e propostas, como se fossem os únicos donos da verdade. Congressistas barganhando cargos em ministérios, acusando o judiciário, negociando apoio ao governo em troca de liberação de emendas, etc. Muitas notícias correm, formal e informalmente, que alguns políticos ameaçam até processar aqueles que os criticarem. Pois bem, e a liberdade de expressão?

Querer proibir alguém de fazer algo é uma forma de despotismo, uma forma arbitraria e absoluta de se impor uma vontade. Oras bolas, se estamos condenados a sermos livres temos que ter um pouco de liberdade de expressão. A sociedade deve combater toda forma de despotismo. E temos muitos exemplos de existência e de tentativas de despotismo.

Quem age com ameaças age com ignorância, este é outro comportamento que a sociedade deve buscar evitar em seu meio. A palavra ignorância tem sua origem no latim, do vocábulo “ignorantia”, que por sua vez deriva de “ignorare” e o seu significado é “não saber”. Em outras palavras ignorância significa “ausência de conhecimento”. Muitas pessoas entendem e usam esta palavra como termo pejorativo, mas não o é. Se uma pessoa não é formada em medicina e não conhece nenhum sintoma ou tratamento de enfermidades podemos dizer que ela não tem conhecimento sobre o tema, que ela é ignorante no assunto.

Pensar que seja um demérito o fato de uma pessoa ser ignorante sobre um ou vários assuntos é um equívoco, isto é agir com preconceito em relação a esta pessoa e com relação ao conjunto da sociedade. É um erro.

A sociedade brasileira já possui um bom nível de maturidade para compreender tais vícios e buscar as respectivas soluções. Todos nós somos livres e temos os limites impostos pela legislação vigente e demais regras morais e éticas que se desenvolveram ao longo de séculos. Por conta disto não podemos permitir que uma pequena parcela de pessoas que detém uma condição relativa de poder possam tentar impor proibições ou comportamentos na base da ameaça.

Temos que lembrar, sempre, que os agentes políticos estão onde estão pela escolha da sociedade e a elas devem fidelidade e satisfação. Já as pessoas livres devem ter responsabilidade ética e moral diante de seus atos, estando cientes de que responderão por eles.

Vamos combater a ignorância e tentar contribuir para a continuidade do desenvolvimento de nossa sociedade. Vamos fazer como Caetano Veloso cantou em sua música: "Eu digo não ao não. Eu digo. É proibido proibir.”

Mas tenhamos a certeza de que responderemos por todos os nossos atos. Todo cidadão esclarecido deve atuar positivamente na sociedade orientando e informando as pessoas para que possam ser livres, ter conhecimento sobre os acontecimentos e responsáveis pelo desenvolvimento de sua nação.


domingo, 7 de maio de 2017

Os debates nas redes sociais

A comunicação nos dias de hoje anda cada vez mais rápida e os acontecimentos podem ser acompanhados em tempo real. A internet, as redes sociais e os aplicativos de mensagens instantâneas possuem as características de auxiliar na solução de problemas ou agravá-los.

Estas ferramentas não são mais de uso exclusivo dos jovens que possuam bom intelecto e habilidades especiais para tratar com tecnologias. Agora nossos pais e avós já estão conectados e interagem com grupos de pessoas das mais diversas faixas etárias, raças, credos, formação acadêmica e de níveis sociais e culturais. A vantagem destes grupos é a heterogeneidade de seus membros.

Estas ferramentas, se usadas de forma positiva, instrutiva e responsável pode auxiliar na compreensão de temas de relevância social. Recentemente, num grupo destes um dos membros que possui uma tendência política de esquerda fez uma dura crítica à reforma trabalhista. O que logo foi apoiado por um funcionário público que também a criticou juntamente com a aprovação da terceirização.

Logo em seguida um advogado e um engenheiro entraram no debate fazendo um contraponto e perguntando se aqueles que estavam criticando as medidas propostas eram realmente contra elas ou somente estavam repassando textos recebidos de terceiros. Emendaram atestando a necessidade dessas medidas.

Aqueles que não estavam inteirados do assunto começaram a questionar quem é que estava com a razão. Um empresário respondeu que para os assalariados as medidas são consideradas como um “golpe”, um tolhimento de direitos. Já para quem paga os salários a sensação é de que nada mudou e terão que continuar pagando altos impostos, salários e encargos e mantendo a mesma produtividade.

Outro mais exaltado disse que aqueles que não estiverem satisfeitos devem pedir demissão de seus empregos e trabalharem em outra atividade, abrir uma empresa, contratar funcionários, pagar salários e impostos.

Na sequência “pipocaram” notícias sobre a baixa produtividade do trabalhador brasileiro postados por diversos membros. Um debate riquíssimo que não se concluiu.

Não é um tema que dá para indicar o lado que está certo, pois o debate não se concluiu no grupo e nem na sociedade. É um tema que sempre será recorrente. Na verdade a produtividade do trabalhador brasileiro é muito baixa, não sendo compatível com a posição que o país ocupa no cenário econômico e social global.

A reforma trabalhista proposta e a aprovação da terceirização são necessárias para tornar nossa economia mais competitiva, gerando mais empregos e renda. Já a reforma da Previdência também é necessária, porém o texto inicial era muito ruim para os trabalhadores, uma vez que propunha uma piora nos requisitos para se obter a aposentadoria e nas próprias condições de aposentadoria.

O texto do substitutivo apresentado é mais ameno e pode até garantir condições melhores de aposentadoria para os trabalhadores do regime celetista. Entretanto as mudanças nas regras para os requisitos ficarão mais “duras” para o trabalhador.

Mas novamente nos deparamos com o mesmo problema: a ausência de debate qualitativo sobre estes temas emergentes. Não basta somente ser a favor ou ser contra uma proposta, tem que ter argumento para sustentar sua posição e quando isto é exigido notamos que a maioria das pessoas que se posicionam nas redes sociais e nestes grupos acaba agindo como verdadeiros propagadores de ideias de terceiros. Por isto o debate tem que ser qualificado, ou seja, feito com pessoas que tenham condições de argumentar de forma clara, objetiva, prática e concreta sobre as situações que existem no mundo real e não no imaginário de muitas pessoas.