domingo, 25 de fevereiro de 2018

A ponta do iceberg


O povo brasileiro é muito pacato. Tão pacato que praticamente não reage a quase nada. Nosso país está sucumbindo por conta de tanta corrupção e não movemos nenhum fio de cabelo. Acredito que todos estejamos esperando por um super-herói, daqueles das histórias em quadrinhos, tipo: Os Vingadores, Agentes da SHIELD, Arrow, Raio Negro ou coisas do gênero. O Chapolim Colorado não poderá nos defender desta vez. A corrupção é tanta que chegamos a estranhar que ainda não tenhamos virado uma Venezuela, onde o seu povo está passando fome e tentando fugir das garras de um governo que atingiu a hegemonia política através da imposição das armas e da corrupção.

Hegemonia que todos os nossos políticos sonham e poucos tem a coragem de anunciar tal desejo. Quando o país descobriu o "esquema PC Farias" do governo Collor, a maioria dos brasileiros ficou escandalizada. Como seria possível pessoas ligadas à administração pública terem a coragem e a ousadia de desviar tanto dinheiro e de receber tanta propina? Como éramos inocentes.

O mensalão, que foi capitaneado por assessores e apoiadores do governo do presidente Lula veio romper com a memória permanente de que nossos políticos são autoridades e que eles desejam o bem da população. Antigamente haviam pessoas que acreditavam em políticos como Adhemar de Barros que popularizou o jargão "rouba, mas faz". Que dizer dos eleitores que elegeram tantas vezes Paulo Maluf e tantos outros que já morreram política ou carnalmente?

Exemplos não nos faltam de políticos corruptos. O que dizer de nossos Sarneys, Jucás e Calheiros? Que sobrevivem há décadas no comando político de nosso país e sequer tem seus processos julgados pelo nosso judiciário?

Na história recente de nosso país foi desencadeada a mundialmente famosa "Operação Lava-jato" que está conseguindo levar empresários e personalidades políticas para a cadeia. Tal operação já está sendo alvo de muitos grupos políticos e corre o risco de acabar. Mas ela está persistente e dentro de seu escopo começa a atingir governos até antes considerados "imexíveis" ou "inatingíveis". A nova fase da operação levou para a prisão, mesmo que temporária, pessoas ligadas a governos considerados de direita, que sempre se opuseram aos governos tidos como "populares", mas que também se demonstraram como sendo corruptos.

Na verdade, a sensação que o povo brasileiro deve estar tendo é como aquela máxima adaptada de que "corrupto é igual trouxa raleia, mas não acaba". É isto mesmo, já não dá para acreditar em políticos. A experiência brasileira já extrapolou todas as formas de empirismo e podemos concluir, como há muito tempo ouvimos dizer, que quase todos que entram para a política acabam sendo corrompidos pelo sistema.

É lamentável. Nosso país tem tantas fragilidades. Tantas pessoas que necessitam de políticas públicas. Só que não são atendidas. E por quê? Porque alguns grupos políticos saquearam os cofres públicos. Porque, com o objetivo de ganhar apoio e votos, alguns espertalhões endividaram ou comprometeram as finanças públicas. Agora o país está travado. Governos federal, estaduais e municipais não conseguem fazer mais nada. Muitos não conseguem sequer pagar a folha de pagamento mensal. E o povo fica com uma "banana".

E não deve parar por aí. O que antes achávamos que era exceção, agora é regra. O que divulgam sobre desvios e roubos de dinheiro público pode ser somente a "ponta do iceberg". Também acredito que os esquemas de corrupção existentes em nosso país devem ser dos mais grandiosos do mundo. Resta saber quando nossos super-heróis chegarão para dar um pouco de esperança para este povo tão sofrido.

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Somos tão jovens

A proporção de jovens em relação à população total está declinando no mundo e o mesmo irá acontecer com o Brasil. Nos países desenvolvidos o processo de transição demográfica já atingiu o quarto estágio onde ocorrem baixas taxas de mortalidade e de natalidade. Com efeito, há um crescimento demográfico próximo de zero e observa-se o chamado “envelhecimento” da população.

No Brasil temos uma proporção de jovens em relação à população total relativamente alta quando comparados com os países desenvolvidos, porém a difusão de métodos contraceptivos e a queda das taxas de natalidade estão proporcionando uma redução drástica no crescimento populacional. Mas as consequências destes eventos ainda demorarão muitos anos para serem percebidas. No momento a sociedade brasileira e os formuladores de políticas públicas devem voltar suas atenções para a inserção dos nossos jovens no mercado de trabalho.

Recentemente foram divulgados os resultados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) do Ministério do Trabalho onde apresentou que no Paraná foram gerados 67.239 empregos com carteira assinada para jovens de até 24 anos. É um resultado para se comemorar? Acredito que não, pois o contingente de jovens em idade econômica na faixa etária de 15 a 24 anos é próxima de 1,9 milhão de pessoas. Destas somente 504 mil estão empregadas formalmente no mercado de trabalho.

Os desafios para os nossos jovens são imensos. Além da falta de experiência para conseguir o seu primeiro emprego há uma nítida exigência de níveis de escolaridades elevados para os postos de trabalho disponíveis, contrastando com baixa remuneração se comparadas com os salários pagos para os trabalhadores “veteranos”.

Temos, também, uma condição social grave que aponta que nossos jovens estão evadindo dos bancos escolares ou estão em série incompatíveis com sua faixa etária. Devemos ter cerca de 511 mil jovens de 16 a 18 anos no Paraná, idade em que deveriam estar cursando o ensino médio. Porém, de acordo com o Censo Escolar do Ministério da Educação em 2017 foram registradas cerca de 367 mil matrículas no ensino médio em instituições públicas.

Cada pessoa tem o seu próprio tempo, porém nossos jovens estão cada vez mais se fragilizando perante nossa sociedade e, por conta disto, deveríamos estar questionando as autoridades de nosso estado sobre o que eles estão fazendo para tentar reverter este quadro. O que nossos deputados e senadores estão legislando para amenizar esta situação? Quais as políticas públicas que o governo do estado está elaborando e implementando para ajudar os nossos jovens?

Uma coisa é certa: no período da campanha eleitoral que se aproxima todos os candidatos vão colar um sorriso no rosto e efetuar discursos treinados na frente do espelho dizendo que irão priorizar os jovens, que investirão na educação e qualificação deles, que atrairão investimentos para o estado para gerar mais oportunidades de empregos e coisas do gênero.

Mas se atentarmos para isto constataremos que os pais dos nossos jovens já ouviam estes discursos quando eles eram jovens. E o que mudou? Nada. Pelo menos para a população em geral, nada mudou. Somente para os detentores de cargos eletivos, que conseguiram lograr êxito em suas eleições e continuam se perpetuando no poder com base em falsas promessas ou promessas não cumpridas.

Nossos jovens já não tem o seu próprio tempo. Pelo contrário, o tempo está se perdendo para eles e com isto presenciamos, dia a dia, o agravamento da crise social que assola nosso país e nosso estado. Daí temos que nos perguntar: o que estamos fazendo para mudar este cenário?

sábado, 10 de fevereiro de 2018

Preto no branco

Vivemos cercados de hipocrisia. Isto mesmo, cercados de pessoas que fingem e dissimulam os verdadeiros sentimentos e intenções. Não é exagero, é a pura realidade.

Muitas pessoas evitam emitir opiniões e, muitas vezes, concordam com os outros somente para não terem que defender suas ideias ou para não travar um debate no qual poderá se demandar muito tempo e esforço. Acredito que a maioria das pessoas ajam assim. Até porque dependendo com quem está sendo o debate ou a conversa já é sabido que nenhum argumento, por mais lógico e coerente que seja, irá mudar as opiniões e ideias de algumas pessoas.

Existem pessoas que possuem suas opiniões encharcadas de ideologias e tendências que não é possível argumentar para convergir para um consenso. Vejam a situação econômica e financeira do setor público: um déficit gigantesco e persistente que poderá levar a economia brasileira para um verdadeiro colapso dos serviços públicos. Porém nenhum agente político tem a coragem de debater as reais causas deste déficit e nem de propor soluções factíveis que causem o menor dano para a maioria dos brasileiros.

No caso do déficit da Previdência, que é um dos principais combustíveis do déficit fiscal brasileiro, há uma dificuldade de o governo votar a proposta de reforma porque não tem voto suficiente para aprovação. E por que? Porque os deputados têm medo do impacto que seus votos terão nas urnas, neste ano. Eles sabem que a reforma proposta mexe com a vida das pessoas e todos tem este esclarecimento e, com certeza, estas pessoas não votarão para reeleger deputados e senadores que aprovarem uma medida que irá prejudicar tanto a população.

O discurso do governo é que querem reduzir privilégios. Oras bolas: que privilégios uma pessoa que ganha até dez salários mínimos tem? Nenhum. Por que não discutem reduzir os repasses para os outros poderes? Por que não discutem eliminar o escandaloso auxílio moradia e outras formas de vantagens salarias disfarçadas de auxílios que são pagos para agentes públicos que já possuem salários elevadíssimos?

Por que não discutem reduzir as mordomias existentes na Câmara dos Deputados, no Senado Federal, nas assembleias legislativas e em muitas câmaras de vereadores? Basta assistir os canais de televisão destes órgãos e veremos uma mostra do luxo e suntuosidade que existem nestes locais. Por que precisam ter carros oficiais e motoristas? Eles não sabem dirigir? E a história dos apartamentos funcionais, verbas de ressarcimento, passagens aéreas e diárias?

E as aposentadorias destes agentes políticos? Podem se aposentar proporcionalmente aos mandatos, enquanto querem que os brasileiros comuns trabalhem e contribuam mais de quarenta anos.

Enquanto muitos brasileiros não têm sequer o que comer as compras de alimentos para estes órgãos deveriam ruborizar as faces de nossos políticos. Mas pelo contrário, chegamos a ouvir desembargadores dizerem que, mesmo eles tendo imóveis próprios no município, eles recebem o auxílio moradia porque está regulamentado e como os outros recebem, eles também têm o direito de receber.

Vivemos cercados de hipocrisia. Num mundo onde nossos agentes políticos não têm coragem de colocar o “preto no branco”. Que não tem coragem de cumprir com os verdadeiros objetivos de seus mandatos eletivos que são os de defender a sociedade brasileira e de buscar promover a melhoria da qualidade de vida de todos a partir de políticas públicas eficientes. Mas este ano tem eleições e podemos mudar tudo isto. Bom seria se inventassem um detector de hipocrisias para que pudéssemos votar com maior assertividade.

domingo, 4 de fevereiro de 2018

Contando histórias

Nesta semana o Ministério da Educação (MEC) divulgou os resultados preliminares do Censo Escolar da Educação Básica 2017. Os resultados constituem uma ótima fonte de informação para formulação, avaliação e monitoramento de políticas públicas para a educação básica. Com os resultados é possível qualquer legislador de nível mediano conseguir avaliar se as políticas educacionais estão sendo eficientes e se os recursos da educação estão sendo bem aplicados.

É claro que os resultados do Censo Escolar não deve ser a única fonte de informação para a concepção e avaliação das políticas. Devem, também, ser utilizados os resultados de outros estudos, levantamentos e avaliações que são realizados regularmente.

O que ganhou grande destaque é o fato de que mais da metade dos colégios de nível fundamental usam fossas, ou seja, não possuem rede de esgoto. Mas também tem outros destaques, como o fato de que 10% dos alunos não concluíram a alfabetização e que o número total de matrículas no ensino fundamental e médio caiu.

É inadmissível, a partir dos resultados preliminares do Censo Escolar, que um agente político use a educação na maioria dos seus discursos, pronunciamentos e propostas, mas na prática não faça nada pela educação. É muito comum encontrarmos agentes políticos fazendo política com a educação e não fazendo política de educação.

O mesmo podemos falar de nossos legisladores, com um destaque especial para os vereadores de todos os municípios. Eles aprovam o orçamento municipal e sabem que tem que aplicar um valor mínimo na educação. Aprovam o plano plurianual e as diretrizes orçamentárias onde estão explicitadas todos os objetivos e metas estratégicas que vai ser financiada pelo orçamento do município. Porém, quando se encerra o exercício, não fazem uma avaliação das metas físicas e uma avaliação qualitativa dos resultados da aplicação dos recursos públicos na educação de seu município.

Na realidade falar de educação é bom para os políticos porque dá voto. Basta falar que vai trabalhar pela educação que muitas pessoas já começam a se interessar em votar no candidato que assim se manifesta. Mas quando se elegem não se fazem presentes para discutir os problemas de cada escola do município para ajudar a cobrar melhorias contínuas tanto na infraestrutura quanto na qualidade do ensino.

Não basta ouvir alguém dizer que as escolas de um município estão tendo bom desempenho e que a qualidade do ensino e a infraestrutura ofertadas são boas, todos têm que agir com ceticismo, principalmente quando se sabe que as informações têm como origem quadros de grupos políticos que querem se manter no poder. As pessoas devem questionar sempre, pois o volume de recursos que é aplicado na educação é muito grande. Em 2016 os municípios brasileiros aplicaram mais de R$ 142 bilhões na educação.

Com isto, as perguntas que não querem calar são as seguintes: Quanto deste recurso que foi aplicado efetivamente em favor da educação municipal? O gasto foi feito com qualidade e propiciou melhoria de vida para as famílias das crianças matriculadas nas escolas? Os vereadores fiscalizaram a aplicação destes recursos ou acreditaram cegamente no que foi divulgado pelo gabinete da prefeitura? A nível estadual os recursos aplicados na educação, no ano de 2016, foi cerca de R$ 108 bilhões e as mesmas questões devem ser feitas, de forma cética, aos deputados estaduais.

Não basta termos acesso à informação da forma que nos passam. Temos que buscar o detalhamento das informações, pois a compreensão do que está acontecendo depende muito da forma com que contam as histórias.