Nos últimos dias duas notícias viralizaram nas redes sociais e nos grupos de mensagens instantâneas: a manifestação do senador Oriovisto Guimarães (Podemos-PR) sobre o fundo eleitoral e o projeto de lei municipal que estabelece os subsídios dos vereadores, prefeito, vice-prefeito e secretários municipais em Apucarana.
Estes dois eventos distintos possuem relação muito íntima entre si e com a situação financeira do setor público brasileiro. Não é novidade para ninguém que o setor público está passando por uma profunda crise fiscal onde os gastos se apresentam sempre crescentes.
Nesta linha é que se apresenta a manifestação sóbria, racional e responsável do senador Oriovisto. Ele fez uma crítica às manobras políticas para se aprovar o aumento do fundo eleitoral descortinando uma abordagem até então não apresentada por ninguém. Declarou ser um escândalo a tentativa de se aprovar um orçamento de cerca de R$ 3,8 bilhões para destinar aos partidos políticos financiarem as campanhas eleitorais municipais de 2020. O valor aprovado foi menor, R$ 2 bilhões.
Diante disto o senador apresentou para a sociedade, de forma simples e direta, que o país terá que se endividar em mais R$ 1,7 bilhão para poder efetuar este repasse para os partidos políticos. Uma grande demonstração de descaso com o dinheiro público e, principalmente, com a situação fiscal brasileira.
Já a notícia sobre os subsídios dos agentes políticos apucaranenses também foi uma surpresa para toda a população. Comumente estes valores são fixados no último ano da legislatura para passar a vigorar na próxima legislatura. Desta forma, os subsídios poderiam ser definidos até o final de 2020. Esta pode ser considerada outra manobra, pois, embora a proposta tenha sido de “congelar” os valores atuais dos subsídios poderiam sofrer pressão popular para reduzi-los.
Convenhamos que numa região onde o salário médio dos trabalhadores é de cerca de R$ 2,2 mil mensais para se trabalhar quarenta e quatro horas semanais um subsídio para vereador de R$ 9,4 mil soa como um acinte para os cidadãos que pagam os seus impostos.
Com a apresentação da proposta neste momento não se viabilizou mobilizações da sociedade civil organizada para discutir o valor dos subsídios dos vereadores o que deverá render muitos debates acerca do desempenho dos atuais detentores deste cargo.
Estas duas notícias, embora pareçam isoladas, possuem um contraste muito íntimo com as pretensas reformas que nosso país poderá passar nos próximos anos para tentar contornar a crise do setor público brasileiro. Uma delas poderá ser uma nova reforma política que defina critérios mais racionais para o financiamento das campanhas e normas mais rígidas para o desempenho das funções públicas.
Outra reforma tem relação com o pacto federativo e com os recursos destinados aos poderes legislativos e judiciário. Nesta linha o relator da PEC do Pacto Federativo, senador Márcio Bittar (MDB-AC), já apontou que a estrutura de gastos dos legislativos municipais é muito pesada e tem que ser revista.
Uma proposta que poderia ser considerada é transformar as câmaras municipais de municípios de pequeno e médio porte numa espécie de conselho de moradores, sem remuneração para os conselheiros, ou estabelecer subsídios compatíveis com os salários médios pagos no município. Isto iria contribuir muito para as áreas sociais dos municípios, uma vez que sobrariam mais recursos para investir nestas áreas com a economia gerada com os repasses para os legislativos municipais. Estas são somente conjecturas, mas que podem e devem ser consideradas.