Todo tipo de decisão sempre tem uma ou mais motivações que são consideradas para atingir os objetivos. Recentemente o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil elevou, pela segunda vez consecutiva, a taxa de juros da economia. A decisão é diferente do que está ocorrendo nos países considerados desenvolvidos, estes estão mantendo suas taxas de juros próximas de zero.
A principal motivação explicitada para esta decisão é o controle da inflação que está se comportando com uma tendência de extrapolar o limite superior da banda de tolerância. Antes da reunião do Copom a expectativa acerca da inflação, medida pelo IPCA, para o ano de 2021 estava, na mediana, em 5,04% e o limite superior da banda é de 5,25%. Na semana posterior a decisão de aumento dos juros as expectativas mantiveram tendência de alta e passaram para uma mediana de 5,06%.
A situação da inflação brasileira preocupa as autoridades econômicas, de forma técnica, e a toda a população, de forma prática. Desde que se implantou o sistema de “metas de inflação”, no ano de 1999, a inflação efetiva somente superou o limite superior em quatro ocasiões. Se isto ocorrer em 2021 será a quinta vez em vinte e três anos de vigência do sistema.
Pelas regras instituídas como diretrizes para fixação do regime de política monetária, se a inflação extrapolar o teto da meta, o presidente do Banco Central do Brasil deve publicar, em carta aberta: as causas para o descumprimento da meta de inflação estabelecida, quais as providências que serão tomadas para o retorno da inflação aos limites estabelecidos e o prazo para que as providências surtam efeitos.
De acordo com a ata da última reunião do Copom as elevações na taxa de juros já estão indicando a preocupação com a inflação de 2022 que, também de acordo com as expectativas, está com tendência de ser superior ao centro da meta. O próprio Comitê afirma que a recuperação econômica dos efeitos causados pela pandemia pode ser mais lenta, o que poderia causar um abrandamento da inflação, porém, também há a preocupação com a tendência de piora da trajetória fiscal brasileira por conta dos prolongamentos das políticas fiscais para abrandar os efeitos da pandemia na economia. Este último eleva a inflação.
O fato é que o Banco Central está elevando a taxa de juros básica da economia e o que pode estar por detrás deste movimento é a tentativa de se buscar o ajustamento da taxa de juros nominal à taxa de inflação para que, numa perspectiva de longo prazo, possa se manter os incentivos monetários na economia para potencializar a retomada do crescimento. Outro fato, é que a retomada irá demorar muito para ocorrer e, por conta disto, as medidas necessárias devem ser tomadas.
O próprio Copom sinaliza com a preocupação do aumento dos gastos fiscais agravar o déficit nas contas públicas e com a demora em se implementar as reformas necessárias. Estes eventos podem pressionar o prêmio de risco do país e, com isto, a pressão inflacionária se torna mais real e evidente na economia.
A preocupação do Copom é com a inflação e espera-se que o aumento dos juros nominais não afete os juros reais por conta dos atuais níveis de inflação. Com isto, o nível de investimentos não se reduz e se mantém a esperança de termos um crescimento econômico em 2021. Só que este crescimento não irá reduzir o desemprego, uma vez que será atendido com a ocupação da capacidade ociosa da economia. Por isto é que não podemos ter falsas expectativas de soluções de curto prazo para o emprego e renda das pessoas.
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