sábado, 4 de abril de 2020

Uma nova conjuntura social

A crise econômica que se avizinha por conta dos efeitos da pandemia da Covid-19 (Coronavírus) ainda não é possível de ser dimensionada no Brasil e muito menos no mundo. Para além das questões que envolvem estatísticas de contaminação e de óbitos sabemos que os efeitos econômicos também serão extremamente danosos para a economia mundial.

Por conta disto as economias pelo mundo afora anunciam e implementam medidas para amenizar os efeitos de uma das maiores crises sanitárias da história da humanidade sobre as suas respectivas economias. No Brasil também está ocorrendo estes anúncios. De forma tardia, mas está. O governo federal, através de sua equipe econômica demorou um pouco para apresentar as medidas, mas as apresentaram.

A impressão que dava era de que o governo estava relutante em apresentar medidas mais progressistas, que implicassem em renúncia de receita ou de aumento de gastos. Porém, não é o momento de pensar em economizar ou de buscar atingir metas fiscais. É momento de garantir, primeiro, a manutenção de vidas e depois se avalia as alternativas para amenizar os danos causados nas economias.

A onda liberal que tomou conta de muitas economias no mundo não consegue lidar com estas questões de forma mais natural, afinal de contas os liberais têm como modelo o individualismo sendo prioritário frente ao coletivo. De forma surpreendente nos vemos com economias tidas como liberais agindo de forma intervencionista e tomando medidas consideradas como keynesianas.

Estas medidas têm sua origem nas ideias do economista inglês John Maynard Keynes, que defendia a ação do estado na economia com o objetivo de atingir o pleno emprego. Suas ideias foram desenvolvidas a partir da análise dos efeitos da “Grande Depressão”, também conhecida como “Crise de 1929”.

Práticas rechaçadas pelos liberais sempre foram utilizadas e surgem, novamente, como alternativas eficientes para o combate de crises econômicas. Isto aconteceu nos Estados Unidos, um dos berços do liberalismo, durante o governo Obama para enfrentar a crise financeira mundial de 2008 e está sendo utilizada pelo governo Trump para enfrentar a nova crise.

O governo brasileiro acordou do sono profundo e admitiu que é necessário tomar medidas econômicas mais robustas. Por conta disto, anunciou algumas medidas que foram bem recebidas pelos analistas e as quais estão sendo indicadas como alternativas factíveis para amenizar o aumento exponencial do desemprego no país.

O desemprego será o maior efeito da crise da Covid-19. Todas as economias terão impactos sociais consideráveis por conta do aumento do desemprego global que, por sua vez, será gerado pela redução do nível de atividade econômica. Esta nova crise aumentará o tamanho da pobreza e da miséria e dependerá das ações dos governos para ser combatida e revertida nos próximos anos.

Somente no Brasil a expectativa é de que cerca de 3 milhões de brasileiros percam seus empregos. Estes novos desempregados se somarão aos 12 milhões existentes, gerando um volume de desempregados superior ao do primeiro trimestre do ano de 2017. Também poderá ocorrer um aumento significativo das pessoas subocupadas por insuficiências de horas trabalhadas, que atualmente totalizam 6,4 milhões de pessoas.

Não é hora de os governos ficarem olhando para os próprios bolsos para economizarem moedas. É o momento de se tomarem medidas para, primeiramente, preservar vidas, e num segundo momento para garantir um mínimo de dignidade para as pessoas através da garantia de emprego e renda. É o momento de se socializar o Estado e de se estatizar a sociedade.  Assim, a onda liberal deverá se amoldar à nova conjuntura social.

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