terça-feira, 19 de janeiro de 2021

Novos tempos, novos hábitos

Há muitos anos fiz, juntamente com o professor Marcelo Vargas, um estudo que indicava que não era economicamente viável para uma família possuir um segundo veículo dadas algumas condicionantes, tais como: limite de quilometragem média mensal, custos fixos envolvidos na manutenção do veículo e necessidade de utilização do veículo para fins não profissionais.

Na época ainda não existiam os aplicativos de transportes particulares e as comparações foram feitas com o transporte coletivo disponível e com as tarifas médias de taxis. A viabilidade em se ter um segundo veículo se demonstrou somente para utilização frequente. Na atualidade, a sociedade está se adaptando a costumes de conforto e praticidade e, até pouco tempo atrás, um destes costumes era a família possuir mais de um carro para atender as necessidades de todos os membros da família. Há exemplos de famílias de três integrantes que possuem um carro para cada membro. Será que em 2021 isto é viável?

Na nossa região os aplicativos de transportes particulares chegaram recentemente e estão mudando a realidade da viabilidade econômica de se ter mais de um veículo para muitas famílias à medida que aumenta o número de motoristas de aplicativo trabalhando nas cidades. Ressalta-se que este número vem aumentando significativamente após a crise econômica causada pela pandemia.

Para muitas pessoas pode parecer que não compensa abrir mão de ter um carro na garagem e utilizar o serviço de taxi ou de aplicativos de transportes, então vejamos um exemplo com um carro de valor de aquisição em dezembro de 2019 de aproximadamente R$ 26.500,00. Este veículo terá um total anual de custo fixo de R$ 3.140,00. Se o proprietário o usar para percorrer um total anual de 6 mil quilômetros, que equivale a 22,7 quilômetros por dia o custo mensal da utilização será de R$ 484,10.

Se considerarmos o custo de oportunidade de manter o valor do carro aplicado e o custo da troca de pneus este custo mensal sobe para R$ 830,51, de acordo com dados parametrizados em estudo atualizado. Com este valor é possível uma pessoa se deslocar de um bairro para o centro da cidade, em trajeto de ida e volta, por até três vezes ao dia.

É claro que esta viabilidade se dá para quem utilizar um veículo para percorrer um limite de até 6 mil quilômetros no ano e no levantamento destes custos estão sendo considerados a desvalorização do veículo, o valor do IPVA, licenciamento, seguro, duas trocas de óleo anual, custo do combustível utilizado, o custo de oportunidade em manter o recurso em aplicação financeira e o custo de desgaste de pneus. Não estão sendo considerados outros custos de manutenção periódica que deve ser feito nos veículos e custos com estacionamento.

Também não estão sendo consideradas questões subjetivas com a vontade de se ter mais de um carro, pois como muitas pessoas falam: “o brasileiro é apaixonado por carros”. Pode até ser, porém a racionalidade econômica deve prevalecer. Por que gastar mais se é possível economizar? E esta economia pode ser aplicada no atendimento de outras necessidades.

Mas para que isto se viabilize e se amplie na região é necessário que aumente o número de veículos em serviço de transportes por aplicativo, bem como as pessoas passem a ter maior confiança nos serviços prestados tendo referências e conhecimento dos veículos e motoristas. Isto leva tempo, mas é possível que este serviço seja ampliado o que trará maior conforto e economia para as pessoas. Estamos vivendo novos tempos, portanto temos que ter novos hábitos.

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