No início dos anos de 1930 cerca de 80% da população brasileira estava no campo e 20% nas cidades. Esta realidade se modificou em cinquenta anos, invertendo estas proporções. No final do ano de 1985 tínhamos o oitavo maior PIB do planeta, o que significa que nossa economia era a oitava mais rica, se considerarmos o conceito de riqueza limitado ao tamanho do PIB.
Ao longo destes cinquenta anos de transformações os dirigentes não se preocuparam com os aspectos distributivos e, com isto, os problemas sociais se mantiveram. Na realidade a pobreza que era concentrada no ambiente rural se transferiu para o ambiente urbano. Contrastando com a riqueza do PIB temos a sétima pior distribuição de renda do mundo o que mantém as diferenças entre ricos e pobres.
Crescemos, mas nos mantivemos desiguais e os dados atuais mantém esta condição de desigualdade que, quando desagregada, vemos que não temos somente desigualdade de renda, mas temos desigualdade racial, de gênero, de acesso à educação e saúde. E o papel dos gestores públicos é, justamente, identificar estas deficiências e implementar políticas públicas de ajustes.
Mas não é isto que acontece na prática. Os interesses se apresentam diversos das necessidades da maioria absoluta da população. E isto ocorre tanto no nível federal quanto nos níveis estaduais e municipais. Se estudarmos, superficialmente o processo histórico do desenvolvimento econômico e social das principais economias mundiais identificaremos que eles passaram, necessariamente, pela agricultura e pela educação.
Tivemos desenvolvimento no setor agrícola, sim. Porém, não tivemos (e nem teremos) reforma agrária. Pelo contrário, nossa estrutura fundiária permitiu o surgimento de grandes propriedades concentradas em poucos proprietários. Além da alta concentração de renda também temos uma forte concentração da propriedade da terra.
Dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) indicam que um terço da produção de alimentos no mundo é realizada pela agricultura familiar. Na China 80% da produção de alimentos vêm da agricultura familiar e no Brasil não chega a 10%. Seria uma forma de distribuição de renda através do trabalho no campo.
Na educação também temos deficiências. A educação poderia (e pode) mudar nosso modelo de desenvolvimento, porém não temos valorização suficiente por parte dos agentes políticos para com a educação pública. No Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA), coordenada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil ocupa a 60ª posição entre 76 países ranqueados.
O que acontece é realmente o contrário: nossos políticos desdenham com a educação. Prova disto foi a afirmação recente do líder do governo na Câmara dos Deputados, Ricardo Barros, sobre os professores e os cortes promovidos na Educação no orçamento de 2021. Para melhorarmos, muitas coisas devem mudar em nosso país, mas com certeza dois setores que precisam ter mais atenção e serem mais valorizados pelos nossos mandatários são: a agricultura familiar e a educação. Somente assim poderemos começar a deixar de sermos um país tão desigual.