Dada a atual conjuntura social e econômica do mundo é natural que os analistas foquem o debate específico nas possibilidades de retomada do crescimento econômico, numa perspectiva de médio prazo, e no combate à fome e miséria, no curtíssimo prazo.
Muitas pessoas mais conservadoras e os mais radicais poderão criticar a insistência na cobrança de políticas assistenciais, mas é disto que os países mais pobres necessitam neste momento: amenizar o aumento da pobreza e da extrema pobreza através do combate a fome. Muitas pessoas no mundo estão passando fome. Os mais céticos poderiam dizer que sempre foi assim e sempre será. Pode até ser, mas a duas crises recentes aprofundaram este problema e no Brasil em específico tivemos três crises recentes.
Com efeito, os brasileiros estão mais vulneráveis. Portanto, é necessário que tenhamos políticas públicas para amenizar esta situação. Só que não estamos vendo ações efetivas do poder público para combater a fome e a pobreza. E quando me refiro a poder público estou abordando os governos municipais e os estaduais, também. Cuidar das vidas humanas não é função exclusiva do governo federal, mas do setor público como um todo.
Segundo dados do Banco Mundial o Brasil estava conseguindo reduzir a diferença entre ricos e pobres. Isto é demonstrado na projeção do índice de Gini, que mede esta diferença. Embora o país sempre figurou entre um dos mais desiguais do planeta haviam ações de políticas sociais para este enfrentamento e o resultado estava sendo exitoso.
Após a recente crise fiscal que levou a recessão nos anos de 2015 e 2016 estes indicadores se deterioraram e o índice de Gini projetado pela Banco Mundial voltou a indicar um aumento da diferença entre ricos e pobres. Na mesma linha o Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou o relatório “World Economic Outlook” que apresenta as perspectivas para a economia mundial tendo como foco a recuperação econômica pós pandemia.
Neste relatório o FMI aponta que o Brasil ocupa, em 2021, a 84ª posição no ranking do PIB per capita. No ano de 1980 o país ocupava a 50ª posição. É claro que o mundo era mais “pobre” naquela época, ou seja, o PIB mundial era menor, porém a população mundial, também era menor. Nos últimos 41 anos o país perdeu posições pela ausência de políticas estruturantes de crescimento econômico e de distribuição de renda. E continuamos sem ter estas políticas. Tanto é que a projeção do FMI aponta que o país continuará perdendo posições e no ano de 2026 ocupará a 90ª posição. O próprio Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que temos cerca de 14 milhões de brasileiros na extrema pobreza. E a pergunta que não quer calar é: o que os governos estão fazendo para mudar este cenário?
Nosso país precisa de uma política de combate à fome, com urgência. E não adianta os críticos conservadores de plantão tentarem desqualificar esta ação dizendo que o governo “tem que ensinar a pescar e não dar o peixe”. Temos brasileiros passando fome e os governos tem a obrigação de ajudá-los. Se não tivéssemos as crises recentes e se os governos tivessem sido mais responsáveis com o financiamento das políticas públicas talvez muitos destes já teriam “aprendido a pescar”.
O novo auxílio emergencial aprovado irá amenizar um pouco esta situação. Entretanto, é necessário que os estados e municípios também auxiliem no combate a fome e deixem de fingir que o problema não é com eles. Não podem se omitir, senão o povo poderá achar que está “tudo como dantes no quartel d’Abrantes”.
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