Os economistas se preocupam com a inflação. Todas as pessoas deveriam se preocupar com a inflação, pois uma taxa elevada de inflação não significa um aumento acelerado dos preços e salários. Se isto acontecesse teríamos inflação pura, o que não afeta os preços relativos. Ao contrário disto, o que estamos presenciando na economia brasileira é um aumento dos preços relativos, ou seja, alguns bens aumentam de preços numa proporção diferente de outros e até dos salários.
Para exemplificar isto vamos simular uma situação hipotética onde uma pessoa ganhe o salário mínimo (R$ 1.100) e o pacote de arroz custe R$ 25,00. Podemos transformar o salário real desta pessoa em valores relativos de pacotes de arroz. Assim, em termos relativos, o salário representaria 44 pacotes de arroz. Se o preço do pacote do arroz aumentar 20% e for a R$ 30,00 e o salário mínimo não tiver correção, o salário relativo deste trabalhador passaria a ser de 36,66 pacotes de arroz. Portanto, haveria uma perda de poder aquisitivo.
No caso brasileiro medimos a inflação mensalmente e os salários são reajustados somente uma vez por ano, afetando a distribuição de renda da economia. A inflação também provoca várias distorções a partir da alteração dos preços relativos, o que se agrava com a excessiva carga tributária sobre o consumo. Isto fere de morte a capacidade de investimento da economia e pode desacelerar o seu crescimento ou mesmo levar a uma recessão com o aumento do desemprego.
Atualmente, na economia brasileira, a inflação voltou a ser uma variável que está preocupando os brasileiros, além dos outros problemas econômicos e da pandemia. A expectativa do mercado para a inflação, medida pelo IPCA, deste ano está em 4,92%, na sua mediana. Lembrando que no início de janeiro esta expectativa estava em 3,32%.
A situação da inflação preocupa, pois está prejudicando os mais pobres que ganham menos e possuem maior vulnerabilidade social frente aos efeitos perversos do aumento generalizado dos preços.
Nos últimos 12 meses a inflação acumulada, medida pelo IPCA, totalizou um aumento de 6,1%. Este índice mede o aumento do custo de vida médio para famílias que ganham entre 1 e 40 salários mínimos. Mas esta não é a realidade da maioria dos trabalhadores. Se considerarmos a inflação medida pelo INPC, que mede o aumento do custo de vida para famílias com renda de 1 a 5 salários mínimos, teremos uma representação mais real da pressão que o aumento dos preços vêm fazendo sobre os brasileiros. A inflação acumulada nos últimos 12 meses, medida pelo INPC, totalizou 6,94%.
O que está puxando a inflação para cima nos dois índices apresentados é a alimentação no domicílio. Os alimentos estão tendo altas expressivas de preços. O preço do arroz aumentou 62,92% nos últimos 12 meses. Já para o feijão carioca o aumento foi de 22%, no mesmo período. Destacamos os aumentos de outros produtos, tais como: farinha de trigo (20,63%), batata-inglesa (23,29%), cebola (40,94%), açúcar cristal (22,95%), carnes (31,43%) e hortaliças e verduras (19,64%).
E o pior é que não vemos políticas concretas de combate à inflação e garantia do poder aquisitivo dos trabalhadores. A preocupação da equipe econômica está focada na aprovação orçamento, em não furar o teto de gastos e na contenção do aumento do endividamento. Mas nada disto será eficiente e efetivo se a inflação fugir do controle. Poderemos ter um agravamento da crise social se o governo mantiver na inércia com relação ao combate à inflação. Precisamos de muito mais do que estão oferecendo.
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