Já os governos podem exigir os seus recebimentos, e também podem alterar as leis para protelar o pagamento de suas obrigações. E é exatamente isto que o governo federal está querendo fazer: querem aprovar uma emenda à Constituição para não pagar o montante de precatórios previstos para o próximo ano. A simples intenção em não pagar já se caracteriza como sendo um calote, mas, na visão do ministro Paulo Guedes, seria um simples parcelamento com a justificativa de atender os desejos do presidente em aumentar o valor do Bolsa Família.
Com o aumento da inflação neste ano e com a expectativa de uma inflação maior também em 2022 se criou um “espaço” fiscal maior para o governo efetuar suas despesas sem “furar” o teto de gastos e sem incorrer em crime de responsabilidade. Entretanto, com a forma com que aprovaram as diretrizes orçamentárias para 2022 no que diz respeito ao fundo eleitoral bilionário e às emendas do relator, a margem que o governo teria para efetuar a necessária ampliação dos valores do Bolsa Família se limitam muito. Quase que se inviabilizam.
O que já foi demonstrado é que o ministro Paulo Guedes nunca teve um projeto para as finanças públicas, limitando a sua retórica a frases de efeitos. Quando surge alguma proposta de política econômica e de reforma vem sempre provocada por ações do dia-a-dia, tipo “no balanço do busão”.
Sobre os precatórios, o ministro afirmou: “devo, não nego e pagarei assim que puder”. Depois, para corrigir o seu rompante complementou que não se trata de um calote, mas de um parcelamento que objetiva pagar com o dinheiro que pretende arrecadar com o processo de privatizações. Mas a real intenção é parcelar os valores dos precatórios para serem pagos nos próximos dez anos.
Esta proposta é do que um calote, sim, pois quem tem precatórios para receber já está esperando há muitos anos. Para o governo seria uma solução muito interessante, pois criariam um espaço fiscal para ampliar o programa Bolsa Família e garantir uma melhoria na popularidade do presidente às vésperas da eleição. Porém, se combinarmos os aumentos de gastos com o financiamento das campanhas eleitorais, com as emendas impositivas por parte do relator do orçamento, mais o orçamento secreto, além do aumento das despesas por conta do aumento da inflação a conta não fecha.
O que temos pela frente é uma tentativa desesperada de resolver as questões financeiras de curtíssimo prazo sem se preocupar com o médio e longo prazo. E para isto o governo está vinculando o aumento do Bolsa Família à aprovação do parcelamento dos precatórios, o que “coloca a faca no pescoço” do Congresso. Os danos que resultarão destas ações enviesadas e atrapalhadas serão sentidos no médio prazo, ou seja, depois que se findar o próximo mandato presidencial. Na prática, o que estão querendo fazer é legalizar as novas pedaladas do governo federal e jogar a conta para a sociedade pagar com juros e correção monetária lá na frente.
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