terça-feira, 9 de novembro de 2021

O prejuízo para o crescimento

Com o avanço do processo de imunização no Brasil os governos já estão flexibilizando as medidas restritivas e a população começa a ter a sensação que as coisas já normalizaram e que a pandemia está no seu fim. Pode ser que sim. Na maior parte do mundo vacinado isto está ocorrendo e as rotinas começam a retornar aos níveis próximos do que haviam antes da pandemia.

A atividade econômica já retomou na sua maioria, restando poucos órgãos públicos que ainda mantém as atividades na modalidade de teletrabalho (home office). Os estádios de futebol já recebem torcidas e até shows e apresentações artísticas e atividades turísticas já estão ocorrendo. É claro que esta retomada está sendo monitorada e moderada, mas já consegue injetar ânimo em muitas pessoas.

O crescimento de nossa economia será muito bom neste ano, embora as expectativas iniciais eram melhores. A demora em se definir e operacionalizar o processo de vacinação acabou por arrefecer as expectativas e, com isto, o crescimento do PIB em 2021 deverá ficar em torno de 5%, segundo o Relatório de Mercado do Banco Central do Brasil (Bacen). O Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI) estão mais otimistas com relação a nossa economia e projetam um crescimento para este ano de 5,3% e 5,2%, respectivamente.

Não há dúvidas de que nossa economia irá crescer, apesar de todas as trapalhadas do governo. Mas o que temos que observar além das questões objetivas neste processo são as questões subjetivas, aquelas que ainda não podem ser mensuradas pelas ferramentas de previsão.

As expectativas do relatório do Bacen as expectativas não se apresentam muito favoráveis: crescimento de 1% em 2022 e 2% nos anos de 2023 a 2025. O Banco Mundial estima o nosso crescimento em 1,7% e 2,5% para os anos de 2022 e 2023, respectivamente, e o FMI projeta um crescimento de 1,5% para 2022.

A economia mundial deverá crescer neste ano 5,6% segundo o Banco Mundial e 5,9% de acordo com o FMI. As economias avançadas irão crescer pouco abaixo das expectativas das duas instituições para o mundo e as emergentes e em desenvolvimento (onde o Brasil está inserido) deverão crescer 6% e 6,4%, segundo o Banco Mundial e FMI, respectivamente.

Para o próximo ano a expectativa de crescimento do PIB mundial está projetado em 4,3% pelo Banco Mundial e em 4,9% segundo o FMI. O Brasil está apresentando expectativas de crescimento muito abaixo da média prevista para a economia mundial, da média prevista para a o grupo de emergentes e em desenvolvimento e abaixo da média para a América Latina e Caribe.

Dentro das questões subjetivas que são consideradas temos a insistência do governo brasileiro em realizar déficits fiscais robustos agravada com a quebra da regra do teto de gastos, passando pelo calote de precatórios e manutenção de orçamento secreto. Outra variável que não está sendo considerada e que poderá (e irá) afetar o crescimento de nossa economia nos próximos dez anos é a condição imposta para nossa educação nos anos de pandemia.

Nos modelos de crescimento econômico a variável “tecnologia” possui peso relevante para a determinação do crescimento e dentro dela está inserida a educação, ou seja, o nível de escolaridade das crianças, dos jovens e dos adultos. No caso concreto é esperado um prejuízo de conteúdo ocasionado pelo sistema à distância. E ainda não estamos vislumbrando estratégias compensatórias. Com isto, sem uma estratégia de reposição destes conteúdos, é praticamente certa que a velocidade de nosso crescimento continuará sendo lenta. Muito lenta.


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