domingo, 30 de abril de 2017

As nossas escolhas

Nós escolhemos a Dilma. Nós escolhemos a Dilma-Temer. Nós escolhemos o Temer. Nós tiramos a Dilma. Nós colocamos o Temer. Agora nós queremos tirar o Temer. Nós escolhemos os senadores, deputados federais, governadores, deputados estaduais, prefeitos e vereadores. Tudo é uma questão de escolha.

As decisões políticas e econômicas dos governos fazem parte de nosso sistema político e muitos entendem que as responsabilidades não são compartilhadas. Mas são. Somos responsáveis pelo que acontece na área política, econômica e social, até porque os governos possuem horizontes temporais limitados, uma vez que passam por eleições periodicamente. Nas eleições periódicas a sociedade tem a oportunidade de escolher entre manter os agentes políticos ou muda-los a partir de suas respectivas atuações e de nossas demandas individuais.

Atualmente podemos dizer que o “homo economicus” atua fortemente no processo de escolha, pois as teorias econômicas são aplicadas ou utilizadas para a solução de problemas que afetam as relações sociais. Isto é demonstrado no que chamamos de teoria da escolha pública.

Numa análise positiva do processo de escolha de dirigentes ou mesmo de votação de reformas, como estamos presenciando atualmente no Brasil, podemos encontrar o paradoxo de Condorcet, que viveu na época da Revolução Francesa. Ele demonstrou que é difícil conseguir uma opinião ou decisão coletiva a partir de opiniões individuais. Quando isto é detectado abre-se a possibilidade de manipulação da agenda de votações alterando prazos e regras.

Neste contexto é que estão ocorrendo as votações das reformas propostas pelo governo Temer. Há um conjunto de negociações de grupos de interesses e há uma pressão por parte de membros da sociedade para que as reformas sejam, ou não, votadas considerando interesses particulares. São grupos que se organizam para questionar pontos das reformas que estão em andamento.

Com a discussão entre os grupos se instala aqui o paradoxo de Condorcet, pois os resultados das votações das reformas não estão atendendo às demandas e reivindicações individuais e o resultado acaba não agradando o conjunto da sociedade.

Precisamos de reformas para alterar a estrutura política e social que temos atualmente. Porém aqueles que aprovam, ou não, estas reformas sofrem pressões de grupos de interesses e as votações acabam não atendendo a quem mais precisa delas: o conjunto da sociedade. Precisamos da reforma tributária, política, trabalhista, previdenciária, enfim, precisamos reformar o estado brasileiro. Do jeito que está não pode ficar. Não há grandes perspectivas de melhoras com o modelo atual de escolha.

No modelo atual identificamos que os detentores do poder de escolha prometem defender os pobres da exploração dos ricos. Entretanto temos uma contradição que foi detectada pelo economista liberal James Buchanan que afirmou que “o político é aquele indivíduo que pede dinheiro aos ricos e votos aos pobres”. Daí temos que perguntar: a quem eles irão atender? Quem eles irão defender?

Isto afirma a demonstração de outro economista, Kenneth Arrow, que a partir das afirmações de Condorcet desenvolveu o que chamamos de “teorema da impossibilidade de Arrow”, que afirma não haver, nem nunca será criado, nenhuma regra de escolha coletiva que satisfaçam os interesses do conjunto da sociedade.

Podemos concluir, no popular, que “estamos numa sinuca de bico”: sem alternativas. Aí perguntamos: Quem poderá nos defender? Desta vez acho que nem o Chapolim Colorado.


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