terça-feira, 23 de junho de 2020

Não há espaço para experiências


O quadro econômico atual está muito adverso e os indicadores estão piorando. A atividade econômica está caindo e com isto aumenta o desemprego e reduz a renda média, o que se caracteriza como um fator retroalimentador da redução do nível de atividade.

Com efeito, espera-se que a piora nestes indicadores arrefeça a inflação. Só que não é bem isto que está sendo apresentado como tendência. As expectativas acerca dos índices de preços sinalizam para um aumento dos níveis gerais de preços. A combinação de aumento de preços com aumento do desemprego e redução da renda média é explosiva, ou seja, causará uma deterioração dos indicadores sociais e econômicos.

Se nas expectativas medianas nossa economia irá crescer cerca de 4% no período de 2020 a 2024 do lado dos preços as expectativas também não são tão boas. No quadro mediano a inflação, medida pelo IPCA, apresenta uma expectativa de aumento de 16% no período. Pois bem, baixo crescimento significa baixa geração de empregos e baixo nível de renda e, com os preços aumentando numa proporção vigorosa, o que teremos é um aumento da pobreza e da extrema pobreza.

Algumas pessoas podem até reclamar que esta previsão é muito pessimista. A previsão pessimista é de um aumento da inflação em cerca de 20% no mesmo período e sem crescimento da atividade econômica. Portanto, há muito que se preocupar com a conjuntura econômica atual e como que o governo federal irá fazer o enfrentamento desta crise.

Nossa sociedade não suportará que se façam experiências heterodoxas ou de novas teorias de política econômica. Nesta linha temos que algumas sugestões extravagantes estão sendo apresentadas por analistas governistas de plantão.

Muitos já rechaçam a possibilidade de emissão de moeda e já é sabido que os resultados da emissão monetária com sucessivos déficits públicos sempre ou quase sempre geram mais inflação. Neste contexto nossa economia está tendo déficits públicos sucessivos e a base monetária ampliada vem crescendo nos últimos anos. O papel moeda emitido também está crescendo e no mês de abril apresentou o maior volume dos últimos dez anos. Há quem sugira que o governo faça investimentos com os recursos das reservas internacionais. Outro erro. Tem o mesmo efeito de emissão de moeda.

Os defensores da política econômica do governo poderão argumentar que a inflação está caindo. É verdade, o índice geral está bem abaixo das expectativas, tendo apresentado deflação de 0,16% nos cinco primeiros meses do ano. Mas quem disse que deflação é bom? A resposta depende do ambiente econômico. Também não devemos olhar somente o índice geral. Temos que considerar os grupos de despesas que compõem o índice, bem como os seus subgrupos e itens.

O grupo de alimentação e bebidas apresentou aumento de preços de 3,7% de janeiro a maio deste ano. Os preços da alimentação no domicílio aumentaram uma média de 4,3%, com destaques para o arroz (10,2%), feijão (24,5%) e leite longa vida (10,5%). Já a alimentação fora do domicílio apresentou aumento médio de preços de 2,4%.

A situação não está nada boa para os mais pobres. Com a pandemia tivemos aumento do desemprego contrastando com aumento do custo de vida e estas condições colocam muitas famílias brasileiras em condições de maior vulnerabilidade social.

Não é momento para se testar teorias modernas. A sociedade brasileira necessita de discussões responsáveis sobre as ações que devem ser realizadas para amenizar os efeitos da crise econômica atual e sobre as formas de retomada do crescimento.

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