A cada dois anos nosso país passa por eleições e por conta disto muitos fatos que afetam diretamente a vida cotidiana dos brasileiros desaparecem do discurso de quem está com mandato eletivo, surgindo somente nos discursos de quem se intitula como sendo oposição. Até aí, tudo normal. Afinal de contas eleições são disputas entre grupos políticos. Porém, a omissão ou distorção dos fatos é muito danosa para a sociedade.
Na economia também é assim. Muitos agentes políticos que possuem mandatos eletivos, independente se a nível federal, estadual ou municipal, tentam disfarçar a realidade apresentada pelas estatísticas. O desemprego aumentou e está assombrando muitas famílias e a extrema pobreza está crescendo vigorosamente.
Cabe ao setor público implementar ações no sentido de minimizar esta situação. Só que como este ano tem eleições municipais os agentes políticos tentam transmitir uma mensagem de que a situação não está tão ruim assim. Tentam criar “pontos cegos” para os eleitores.
A crise econômica atual, causada pelos efeitos da pandemia, é a mais grave dos últimos cem anos. No cenário mediano nossa economia deverá encolher algo em torno de 6,5%. No cenário otimista esta queda ficará em torno de 4%, mas tem os mais pessimistas que apontam para uma queda de 11%.
Pois bem, o nível de atividade econômica influencia diretamente no nível de emprego. Portanto, se a economia não crescer, não gera empregos e o volume de renda real reduz, aumentando a pobreza e a extrema pobreza.
Para ter uma ideia do “tamanho do buraco”, no plano mediano nossa economia encerrará o ano de 2020 operando nos níveis do ano de 2008. Isto influenciará todos os indicadores econômicos e sociais. Como contraponto os governos devem lançar mão de políticas econômicas e sociais para abrandar os efeitos perversos sobre a população, principalmente para os que se encontram em condições de vulnerabilidade social.
Quando tentam demonstrar como se dará a recuperação da economia muitos agentes políticos afirmam que será rápida e vigorosa. Não será. De acordo com as mesmas expectativas medianas, no ano de 2024 a atividade econômica deverá estar operando nos níveis do ano de 2014 e para os mais pessimistas estaremos operando nos níveis de 2010.
Levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), aponta que a retomada da economia brasileira será mais lenta que em 90% dos países. Na América do Sul apenas a Venezuela terá desempenho pior que o brasileiro.
Estes apontamentos consideram a capacidade de respostas do setor público brasileiro para as crises e ela não é muito positiva, uma vez que a União, estados e municípios estão, há muito tempo, passando por uma crise fiscal sem precedentes. As contas públicas de muitos entes federados estão desequilibradas. Muitos estão sem condições sequer de arcar com a folha de pagamento do funcionalismo público.
O governo federal deverá ultrapassar o teto de gastos já em 2021 e as contas públicas deverão se equilibrar somente em 2033, segundo estimativa da Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado Federal. Com efeito, a dívida pública deverá aumentar muito, o que poderá pressionar as taxas de juros para cima. Sem sombras de dúvidas a insistência dos agentes políticos em criar “pontos cegos” para os eleitores está causando muitos danos.
Por conta disto, o debate sobre a retomada da economia e sobre uma nova forma de atuação do setor público deve ser ampliado com toda a sociedade. Todos podem e devem participar desta discussão.
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