terça-feira, 20 de outubro de 2020

A onda

Nos últimos anos o mundo presenciou o avanço das ideias liberais com governantes sendo eleitos com propostas revolucionárias de redução do tamanho do estado nas respectivas economias. O sucesso de primeira hora destes personagens se deve ao fato de que muitas pessoas já não suportavam pagar tantos impostos sem que eles retornassem para a sociedade na forma de bens e serviços públicos de qualidade. Os arautos da onda liberal pregaram uma maior eficiência na aplicação dos recursos públicos e a atenção do estado em questões próprias.

Pode até ser que em alguns momentos ou em alguns lugares tenham logrado êxito, porém muitas das experiências liberais propostas foram colocadas em prática sem uma avaliação mais criteriosa. Muitas questões fundamentais não foram consideradas e alguns destes governos já deram ou estão dando água.

O que muitas destas pessoas não consideraram são os conceitos elementares e princípios fundamentais para se conceber políticas econômicas e colocá-las em prática. Todo sistema econômico possui as suas respectivas imperfeições no seu funcionamento e o processo histórico e a forma com que as economias foram geridas nos últimos anos podem ter resolvido algumas delas, porém agravado outras.

Via de regra, as falhas no funcionamento de uma economia surgem de problemas na alocação dos recursos existentes, bem como da má distribuição de renda, problemas de flutuações de preços e baixo crescimento econômico. Com efeito, temos perturbações na organização dos sistemas econômicos que são corrigidos com a atuação do estado na economia.

Não se trata de ser liberal, neoliberal, esquerdista ou mesmo socialista, trata-se do papel fundamental dos governos de garantir a condição de bem-estar social. O governante que despreza este papel do estado somente conseguirá agravar os problemas sociais existentes, pois o livre mercado “per se” não dará conta de corrigir as imperfeições do mercado.

Porém, problemas podem ser gerados a partir de erros na dosimetria de atuação do estado que pode se multiplicar e extrapolar as funções convencionais de educação, saúde, infraestrutura, justiça e a busca pela condição de bem-estar social.

Com a crise econômica causada pela pandemia da Covid-19 praticamente todas as nações tiveram que potencializar a atuação de seus governos na economia com programas de transferência de rendas para tentar amenizar o avanço da extrema pobreza com a queda abrupta da atividade econômica e avanço do desemprego.

No caso brasileiro, se o governo federal não lançasse os auxílios emergenciais a crise social, com certeza, teria se agravada tanto e arremessado nossa economia numa condição de extrema pobreza compatível com a experimentada na primeira metade do século passado. O auxílio emergencial foi e é importante, porém o governo federal deveria estar estudando alternativas para a retomada sustentável da atividade econômica, o que parece que não está ocorrendo como deveria.

O Centro de Liderança Pública (CLP) estima que com o fim do auxílio emergencial a extrema pobreza poderá subir para 9,5% da população, sendo que antes da pandemia estava em 2,3%.

É nítido que o setor público tem que atuar na economia tentando corrigir as imperfeições alocativas existentes no mercado e isto se aplica não somente ao governo federal, mas também aos governos estaduais e municipais. Por isto, nossos governantes e a população devem compreender quais são as necessidades prioritárias de suas respectivas comunidades sem “achismos” e sem prejulgamentos. Devem escutar mais a sociedade, sempre.

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