É claro que parte das análises são ensopadas de juízo de valor e as tendências políticas de cada analista influencia no resultado. Porém, não tem como fugir ao rigor da ciência política e da ciência econômica. Muitos eventos, mesmos os futuros, seguem a lógica de modelos econômicos comportamentais, bem como as condições de equilíbrio de cada mercado.
Os assuntos que estão à frente dos noticiários com maior destaque são as decisões sobre as taxas de juros para controlar a inflação e a PEC dos combustíveis. Ambas ações do governo são ilustradas como sendo a solução para amenizar o custo de vida dos brasileiros de forma geral, no caso da inflação, e para baratear os combustíveis e o gás de cozinha, no caso da PEC dos combustíveis.
Mas algumas coisas relevantes não estão sendo ditas no escopo da euforia dos governistas de plantão. A primeira questão que quero destacar é a ação do Copom em elevar os juros como ferramenta para o combate à inflação. Temos três tipos de inflação: a de demanda, quando os consumidores aumentam muito o consumo de bens e serviços e por isto os preços aumentam; a de custos, quando ocorrem aumentos de custos de produção e estes são repassados para os preços finais; e a inercial, onde os preços sobem na forma de retroalimentação baseada na inflação passada.
O remédio utilizado pelas autoridades econômicas trata toda a inflação como se ela estivesse sendo gerada pelo excesso de demanda das famílias, o que não pode ser admitida na integralidade. É claro que o consumo das famílias tem aumentado em relação aos anos anteriores, mas a inflação não é gerada somente pela demanda, também temos componentes de custos na inflação, principalmente a desvalorização de nossa moeda frente ao dólar. E o que estão fazendo para combater isto?
Em 2021 a energia elétrica sofreu reajustes de preços de 21,2%, a taxa de água e esgoto subiu 5,2%, o aumento do gás de cozinha foi de 37%, a gasolina subiu 47,5% e o óleo diesel aumentou 46%. Estes aumentos não ocorreram porque as pessoas aumentaram seus consumos, mas porque o governo pratica uma política de preços monitorados que deteriora a renda dos brasileiros. O aumento dos juros pode ajudar um pouco no combate à inflação, porém não pode ser tratada como sendo a única alternativa. Na outra ponta juros altos afetam o endividamento público que, somado à indisciplina fiscal, piora a trajetória das contas públicas e eleva o prêmio de risco do país. A inflação deve ser combatida com outras ferramentas de política econômica além de juros altos.
A segunda questão, a PEC dos combustíveis, é mera ação populista, uma vez que não há garantias de que os preços serão reduzidos, até porque as possíveis reduções poderão ser apropriadas pelas respectivas cadeias produtivas. O que ocorrerá é uma sensação temporária de melhora que irá gerar aumento do endividamento público a ser compensado com aumento de impostos no futuro próximo para cobrir o rombo criado pelos rompantes populistas.
Muitas informações estão sendo omitidas da sociedade e devem ser esclarecidas e debatidas com transparência e responsabilidade. O que estão fazendo é, simplesmente, “tapar o sol com a peneira”. Não se resolve nada, só empurram para frente.
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