terça-feira, 26 de julho de 2022

Estamos cheios de promessas

As medidas econômicas do governo federal têm surtido efeitos positivos e as expectativas acerca da inflação e crescimento econômico têm melhorado, embora ainda acumulem desempenhos não muito bons nos últimos anos. Os analistas projetam uma inflação acumulada em 2022 de 7,18% e um crescimento do PIB em torno de 2%. Estas expectativas estão sendo comemorados pelo governo como resultado de eficiência da política econômica.

Por outro lado, temos que os preços estão subindo no mundo todo e os preços dos alimentos são os que mais impactam negativamente a qualidade de vida das pessoas, principalmente em países onde as desigualdades sociais e a intensidade da pobreza são maiores. Este é o caso do Brasil que convive há muitos anos com as desigualdades sociais e voltou a ter a intensidade da pobreza agravada nos últimos dez anos.

O presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) e vice-presidente do Conselho Mundial da Avicultura, Ricardo Santin, esclareceu, em artigo assinado e publicado no Estadão, as causas dos aumentos dos preços dos alimentos. Elencou desde a escassez de contêineres e aumento dos custos para desembaraço de cargas, passando pela elevação de custos produtivos, câmbio desvalorizado, preços dos combustíveis, conflito entre Ucrânia e Rússia, chegando nos aumentos dos preços do milho e do farelo de soja e nos problemas com a influenza aviária e da peste suína africana.

Com isto, fica claro que o aumento dos preços, em especial dos alimentos, é um fenômeno global. No caso brasileiro temos uma vantagem comparativa de sermos um dos maiores produtores de alimentos do mundo, porém a desvalorização de nossa moeda potencializa o aumento dos preços dos alimentos que, combinado com uma sensível redução do rendimento real e nível elevado do desemprego, gera um quadro de piora da qualidade de vida da população.

Não há muito o que comemorar. A inflação no Brasil deve fechar um ciclo de quatro anos (de 2019 a 2022) acumulando um aumento de preços em torno de 28,6%. Somente nos últimos 12 meses a alimentação no domicílio aumentou 15,9%, os transportes subiram 17,5% e os artigos de residência, 14,5%. E não temos perspectivas de redução dos preços tão logo: a inflação deve se manter acima do teto da meta em 2023 e acima do centro da meta em 2024.

Do lado do crescimento da economia o Brasil deverá ter um crescimento nos quatro anos (de 2019 a 2022) de 3,8%, o que representa um crescimento médio anual de 0,9%. Os países pobres do mundo terão um crescimento econômico médio anual de 3,7% e os países da América do Sul ficará em 1,0% ao ano. Já os mercados emergentes e as economias em desenvolvimento apresentarão um crescimento médio de 3,0% ao ano.

A sensação é de que a situação está melhorando, mas esta melhora deve ser provisória, uma vez que as ações presentes estão sendo financiadas com um maior endividamento público que irá impactar negativamente os juros, o crescimento econômico e a inflação nos próximos anos.

O crescimento real dos emergentes e das economias em desenvolvimento está projetado para uma média anual de 4,3% ao ano em 2023 e 2024. A média projetada para o crescimento da economia mundial é de 3%. Já a expectativa de crescimento médio do PIB brasileiro é de 1%, ficando abaixo da média dos países da América do Sul, que está estimada em 1,9%.

Precisamos de uma política estruturante para o desenvolvimento econômico e os candidatos que se apresentam para o pleito deste ano devem trazer propostas reais e não mais promessas que não serão cumpridas.


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